segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Fim de novembro na praia

Um final de semana na praia, costuma ser normal entre a geração que busca a paz das forças ocultas desdenhadas em estrepolias e festas. E no fim de novembro, foi mais um desses que Caio pode se deliciar com o sol quente de um verão que ainda não tinha chegado. Um sol quente, que deixou ardência e alguns sinais de queimadura litorânea.

Mas antes do mar beijar a fronte de Caio, vale lembrar que muito pode se acontecer com quem busca uma auto-afirmação junto de estranhos, vedados pelo sagrado sublime do local da mata.

Junto com Adriano e Bernardo, Caio resolveu dedicar um dia de sua vida a uma coisa nova. Uma fantasia revestida de sentimentos e buscas de certas nostalgias. Assim, adentraram-se a mata e ali puderam realizar todo o trajeto da alma e do corpo. Experimentaram em suas sensações, a realidade trasmudada em flashes de um inconsciente vazio de pensamentos mórbidos, só afim de brisar por alguns instantes a incapacidade de se tornar grande.

Nessa aventura, coube a cada um deles se afirmar diante aos símbolos da mata fechada, os valores de um encontro um tanto casual, mas que tornou-se reflexos da sabedoria que vem do alto.

Além disso tudo, Caio era novato nas histórias contadas na mata, enquanto os dois novos amigos, eram seres já mais habituados. Transpareciam um certo frescor e suavidade. Uma compatibilidade sem igual com o verde da floresta. Notava-se ao longe que os seres encantados, fisicamente se entrelaçavam entre as pernas e os braços dos garotos, que com sorrisos e frases soltas, entoavam um hino único de adoração ao momento oferecido pelo tempo, captado nesse espaço.

Ali naquela redoma de coisas verdes. Entre musgos e pouca folhas secas, que demonstravam que passou por ali um inverno não muito distante, não adiante e não muito atrás estavam eles, sentados em posição de contemplação. Era o encontro de um tal Deus com os seres pequenos e rarefeitos de misérias. Era o sonho da mata virgem encontrando-se com a insatisfação e a vida humana.

Dali por diante, os meninos tornaram se um, já que a natureza se permitiu também torna-se uma com eles.

O gosto de novembro se finda com três corações pulsantes em tom marrom e verde. Era o cheiro da terra, o gosto do mato e o salgado das lágrimas do mundo que inaugurava de modo inefável, a controversa história de uma mata sempre contemplada pelo oceano de águas claras.

Os três jovens? Encontram-se uno diante aqueles que conseguem dividir o tempo entre a mata fechada e a praia do fim de novembro.

sábado, 27 de novembro de 2010

O aluno de nº 19

A inteligência de Ramon, não era somada aos números da álgebra do professor Aílton, menos ainda descrito na gramática de D. Chica do Beabá, educadora mais velha do Colégio Irmã das Dores e muito sábia pelos contos e fábulas produzidas a décadas com o tear de experiências que desenvolveu em sua vida lecionaria.

Caligrafia feia, e frases estranhas rascunhadas entre as lições que a Geografia lhe propunha analisar. Era um aluno desajustado, escondido por detrás de um belo fundo de garrafas sobre os olhos e pincelado pelas roupas retalhadas e costuradas na confecção de sua avó Maria da Penha, outra senhora ímpar na proximidade da estátua monumental de um burro, símbolo da cidade.

Era um garoto questionador de si mesmo, mas nunca das razões do mundo. Sentava-se abaixo das pitangueiras do parque central e único por sinal e ali passava as tarde da semana toda. Logo que saía da escola, ficava para ali mesmo. Não se via mais vida naquele ser pequeno e estranho. A não ser pelo movimentar de páginas e mais páginas. Talvez fossem livros de fácil compreensão, também pudera, ele mal sabia ler ou escrever coisas grandiosas.

Ramon era filho da dona de casa Ruth e do tempo. Não conhecera o pai que morreu antes mesmo de serem apresentados. Assim dizia sua mãe quando questiona por ele sobre o pai: – esse aí morreu para mim e para você. Portanto, tão inocente era o garoto, que o pai morreu.

Não tinha irmãos, tinha primos. Não tinha amigos, havia um bocado de gente que simplesmente apertava suas bochechas. Não tinha nada, mas se contentava com o pouco e assim ia vivendo sua vida.

As horas passavam e o tempo ia se tornando escasso. Com isso, Ramon teve que aprender a ser gente. Foi difícil, mas o pobre órfão de pai aprendeu entre as linhas tortas a se comunicar com o mundo das letras e dos contos imaginários. Era visto ora ou outra rabiscando pequenos pedaços de papel branco com tinta preta.

Tudo ia se encaminhando bem quando, de supetão, ouviu-se uma voz trêmula, mas convincente de um canto da sala que disse: – Aqui aprendi a ler, agora vou embora pra aprender ser gente.

Ramon, que já estava na última série, levantou-se e caminhou em direção a porta. De cabeça baixa, não olhou para os lados e nem para ninguém. Era chegada a hora que o tempo lhe prometerá debaixo do pé de pitangas.

O jovem de olhos fundo de garrafas saiu da cidade. Fora morar com a Tia Gertrudes na cidade grande e lá iniciou-se no curso de Filosofia. Fora lido tempos depois alguns de seus pequenos textos em salas de aula e alguns dos seus livros tornaram grandes para o povo simples e essencial para o simples povo.

Ramon aprendeu com o tempo e o tempo lhe rendeu Ramon Levisnky.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O anel de ouro de Iolanda e o nome dado

Pelos morros do pequeno vilarejo de Anhagaba, se via ao longe a figura de Iolanda Gusmão, doce jovem de cabelos cor de mel que trazia em si uma beleza ímpar de todas as outras moças do lugar. Se escondia por detrás dos longos vestidos e era ansiosamente esperada por passar entre as vielas e escombros de uma terra de ninguém.

Pouco se sabia daquela jovem rapariga, que trazia em seu dedo anelar, uma aliança da cor do ouro e brilhante como a luz do sol, que resplendia aos olhos de quem ousasse olhar tão profundo sobre ele. Seria ela desposada de alguém? E quem deixaria aquela bela donzela desprovida de cuidados em um lugar onde as moças são rendeiras e os homens pescadores, tão ogros que eram incapazes de respeitar até mesmo a mãe do único padre da Capelinha de São Pedrinho, assim chamado pela imagem de um pequeno pescador encontrado a anos dentre os destroços de uma embarcação que antropólogos dataram a anos.

Anabel, a professora das crianças, dos jovens e também de algumas velhas senhoras, era a única que acenava com as mão a jovem Iolanda, que denotava certa felicidade ao vê-lá. Era como se os olhares se encontrassem e e as palavras voassem entre os pensamentos das vozes vazias e caladas.

A noite, Iolanda era vista sempre a beira do rio. Parecia companheira das águas calmas. Hora ou outra era vista olhando para o alto, talvez contasse as estrelas, mas muitas vezes elas não apareciam, mas era sempre vista balbuciando alguma coisa. Não se sabe ao certo o que ela fazia lá, mas quem passava ali por perto ficava sempre admirado com a completude que se instaurava entre a rapariga e as águas do Rio Laila, esse batizado com esse nome, por lembrar sempre da lenda que o povo de Anhagaba contava, de que a cada sete anos, é possível ver refletido sobra a água, a imagem nítida de uma índia, que fugindo de caçadores e homens maus, residiu próximo dali por muito tempo, até entrar no rio e entregar-se lindamente a morte em ocasião de um massacre a índios de sua tribo. Laila foi um nome dado meio que por improviso, pois nunca ninguém chegou perto da índia, pois os jovens pescadores da época, fizeram uma promessa a Virgem a quem eles tanto eram devotos, que cuidariam, mesmo de longe da índiazinha, como se cuidassem da própria Mãe do Céu. E assim foi feito. Pois quando ela entrou no rio, muitos a viram entrar e nunca mais sair.

Iolanda, talvez não conhecesse a lenda, pois não se comunicava com ninguém. Era possível apenas vê-la ora sorrindo, ora muito centrada em alguma coisa que nunca entenderam o que era de fato.

Iolanda e seu anel de ouro, era a coisa que mais deixavam as pessoas daquele lugar encafifadas. Colocavam todos num rodamoinho de pensamentos e aguçava a masculinidade dos pescadores, mas logo despertava algo de imaculado, trazendo sobre eles, a esperança que assolara o ambiente quando se via presente aquela jovem.

Nunca de fato, souberam quem era Iolanda Gusmão, nome esse dado pela professora do lugar. Achou-se apenas inscrito sobre a pedra que ela deleitava, sob as noites de lua cheia, a frase A lua que me banha é a mesma que me leva de volta. A índia nunca mais apareceu. E a jovem por sua vez, nunca mais foi vista, depois da festa de São Pedro, na capela de São Pedrinho. Deram depois dos acontecimentos, a alcunha de Virgem a bela jovem da Lua.