A inteligência de Ramon, não era somada aos números da álgebra do professor Aílton, menos ainda descrito na gramática de D. Chica do Beabá, educadora mais velha do Colégio Irmã das Dores e muito sábia pelos contos e fábulas produzidas a décadas com o tear de experiências que desenvolveu em sua vida lecionaria.
Caligrafia feia, e frases estranhas rascunhadas entre as lições que a Geografia lhe propunha analisar. Era um aluno desajustado, escondido por detrás de um belo fundo de garrafas sobre os olhos e pincelado pelas roupas retalhadas e costuradas na confecção de sua avó Maria da Penha, outra senhora ímpar na proximidade da estátua monumental de um burro, símbolo da cidade.
Era um garoto questionador de si mesmo, mas nunca das razões do mundo. Sentava-se abaixo das pitangueiras do parque central e único por sinal e ali passava as tarde da semana toda. Logo que saía da escola, ficava para ali mesmo. Não se via mais vida naquele ser pequeno e estranho. A não ser pelo movimentar de páginas e mais páginas. Talvez fossem livros de fácil compreensão, também pudera, ele mal sabia ler ou escrever coisas grandiosas.
Ramon era filho da dona de casa Ruth e do tempo. Não conhecera o pai que morreu antes mesmo de serem apresentados. Assim dizia sua mãe quando questiona por ele sobre o pai: – esse aí morreu para mim e para você. Portanto, tão inocente era o garoto, que o pai morreu.
Não tinha irmãos, tinha primos. Não tinha amigos, havia um bocado de gente que simplesmente apertava suas bochechas. Não tinha nada, mas se contentava com o pouco e assim ia vivendo sua vida.
As horas passavam e o tempo ia se tornando escasso. Com isso, Ramon teve que aprender a ser gente. Foi difícil, mas o pobre órfão de pai aprendeu entre as linhas tortas a se comunicar com o mundo das letras e dos contos imaginários. Era visto ora ou outra rabiscando pequenos pedaços de papel branco com tinta preta.
Tudo ia se encaminhando bem quando, de supetão, ouviu-se uma voz trêmula, mas convincente de um canto da sala que disse: – Aqui aprendi a ler, agora vou embora pra aprender ser gente.
Ramon, que já estava na última série, levantou-se e caminhou em direção a porta. De cabeça baixa, não olhou para os lados e nem para ninguém. Era chegada a hora que o tempo lhe prometerá debaixo do pé de pitangas.
O jovem de olhos fundo de garrafas saiu da cidade. Fora morar com a Tia Gertrudes na cidade grande e lá iniciou-se no curso de Filosofia. Fora lido tempos depois alguns de seus pequenos textos em salas de aula e alguns dos seus livros tornaram grandes para o povo simples e essencial para o simples povo.
Ramon aprendeu com o tempo e o tempo lhe rendeu Ramon Levisnky.
6 comentários:
Estou vendo que temos um novo integrante na estante dos criativos literários!
Quem se limita e prende seus pensamentos a si, sem dar asas a sua imaginação, sem sonhar e culpa sua posição social sequestra em si a essencia de ser um grande homem um dia e se condena a viver sempre preso ao cárcere da sua subexistência inferior a de muitos outros... Sejamos o Aluno 19 frente aos nossos problemas!
Amei! Gostei muito como são descritas características, dá pra imaginar os personagens e o cenário que se passa o conto. Continue escrevendo, quero mais beijo
Essa foi uma das mais profundas conclusões que tirei. O aluno 19 é você, eu sei que é... Por isso se torna especial, pois cada coisa que remete a ti, se torna grande para mim.
Quanto ao conto, muito bom e bem implícito. O mundo precisa de gente assim. De escritores sábios que deixem um gostinho de que a história poderia ser diferente, mas que não foi!
Kleberson, não tenho mais o que dizer a não ser o que já sabe!
Continue escrevendo!
se eu fosse uma boa escritora deixaria aqui um mundo de palavras que vc com certeza marece mas sou aoenas fã desse moleque escritor, e um dia quem sabe serei digna de um conto inspirado em mim kkk [brincadeira manolo te amo]
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