O homem é uma alegoria. A mulher a obra inacabada. A criança um objeto persuasivo. A vida, um grande conto mal contado. Aquele que não cria, talvez em algum momento da vida se perca por não haver outros caminhos a seguir...
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Janaína foi festejar
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
O buraco do Natal da Silva
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Hey João, a Lua está ali
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Direito de ser ela
domingo, 12 de dezembro de 2010
O jardineiro, a flor e a metáfora
Já não era dia, mas ainda datava sexta-feira, e o jardineiro continuava a cuidar fielmente do jardim de Beatriz, talvez ele ainda estivesse ali pelo fato de naquele período, os horários não eram os de fatos sucumbidos ao espaço do tempo.
Rafael, o jovem com experiência tamanha em adornar jardins, aprendera o ofício com seu pai ainda quando pequeno, por isso carregava em si grande aptidão com o que a natureza propunha a oferecer aos olhos de homens e mulheres que buscassem um jeito novo de contemplar a vida.
Beatriz era jovem e carregava consigo a beleza ímpar de um princesa desses novos contos de fada. Rafael era belo, inspirando em si, a perfeição de um amontoado de flores bem cuidados. Eram as diferenças encontradas sobre um mesmo espaço recortado pela imaginação de cada um.
O momento era favorável a uma prosa entre os jovens que demonstravam apresso imenso um pelo outro, devendo-se levar em consideração que já se conheciam desde pequenos. Sendo os seus pais, velhos amigos dos tempos de mocidade. Estavam acostumados a estar em alguns momentos juntos, mas nunca tão próximos, pois suas vidas tiveram rumos e situações diferentes daquelas sonhadas quando ainda brincavam e sonhavam apenas em mudar o mundo.
Beatriz demonstrava certo contentamento em ver Rafael ali, talvez trouxesse para fora de si esperanças, sonhos, desejos ou sabe-se lá o que. Mas talvez aqueles encontros, quase que mensais lembrassem a ela de quem era de verdade. A jovem perderá os pais em um acidente de návia que partia rumo a uma expedição missionária em meio a África, e como ela ainda era muito jovem, ficou sob os cuidados de sua avó, vindo a falecer alguns anos depois. Talvez a senhora só tenha esperado Beatriz crescer para poder partir também.
O jardineiro, era uns dois anos mais velho que Beatriz. Era quase um adulto, mas parecia um menino quando estava entre as flores. Morava com a mãe. Seu pai, morreu em meio a uma batalha travada na capital de sua cidade. Deixou para o filho, a esperança de poder encontrar nas flores, o elixir de uma vida justa, regada e harmoniosa. Plantou dentro dele, mesmo com as ausências, afetos sólidos e construtivos. Tornou o menino em um homem, dando-lhe espaços para os sonhos e medos. Abrindo as portas para o mundo mas também o trancando quando devaneios passavam e poderiam raptar a dignidade do menino homem Rafael.
Ao encontro dos dois na varanda, ouviu-se bem ao fundo, a trilha sonora que embalou a época dos dois jovens, que foram marido e mulher em suas épocas de brincadeiras. Era uma letra de beleza sem igual que dizia: “O amor é real, realidade é o amor / O amor é sentir, sentindo amor / Amar é querer ser amado¹...” Mas antes que as emoções começassem a aflorar a pele, apareceu-lhes entre ele a metáfora. Algo como a terceira pessoa do singular, não deixando espaço para que Beatriz e Rafael vivessem o que a tempos começaram, mas que nunca conseguiram consumar. E restou a metáfora amar o seu progenitor jardineiro. E a Beatriz, a metáfora também amou. Se sabe apenas que esse amor existe, mas quem alguém terá que ceder seu espaço para que a flor possa florir.
¹Love – John Lennon
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
O tempo e eu
Assumindo a condição de infinitude, o tempo foi requerer ao seu criador o seu direito reservado de ser quem é e a plena justificação de suas horas prestadas de serviços gratuitos.
Questionou. Tornou-se os por ques em dilemas, onde só quem teria a resposta seria o seu mais chegado Kairós. Duvidou da física que a quantificou-o em movimento analógico, desenvolvendo assim um diagnóstico psicossomático, passando a assumir uma condição meramente humana para as análises de um Tal Dr. Saturno, senhor de tudo que cabe no espaço, sem as designadas linhas das certezas contextuais.
Chorar ao mundo, foi a maneira mais fácil que encontrou para demonstrar suas fragilidades. Juntou-se aos misticismos de uma tragédia próxima e aos ritos de uma geração desenfreada em comunhões aqui ou acolá. Dormiu o sono dos inocentes e massificou entre as construções de recônditos subconscientes, ao qual o mundo depreciou entre terapias e psicanalises.
Procurou ainda entre as sessões de psicografias, cartas escondidas de sua senhora mãe Gaia, que deixou-se morrer quando os seus filhos feitos em carne humana, entronizaram ao mundo seus reis particulares e seus temidos presidentes. Sábia ela que seu organismo nunca mais seria o mesmo com a miséria que um dia lhe entregariam no banquete da noite seguinte.
Encontrou seu fim onde havia promessa de vida abundante. Viu sua morte tão próxima que não sobraria “tempo” de compor a sua melodia psicobiografica. Não teria com quem compartilhar cartas filosóficas. Ensaios metodológicos e menos ainda artigos fenomenológicos. Teve que se acostumar com o que diriam e inventariam a seu respeito. Temia aos contos de escritores “moderninhos” e roía de ódio pelas comparações paradoxais que moralistas pré-contemporâneos iram argumentar em seus cultos.
Foi se confortando, juntando suas coisinhas que espalhara pelos cantos subversivos e juntando tudo dentro de um grande saco desgostoso e apertado em meio a escombros e nucleares. Concentrou-se apenas em pegar tudo, não deixar nada como herança. Tornou-se egoísta. Eternizou o fim dos tempos, seus filhos mais novos e lançou sobre o que viesse depois dele a maldição de terem que aprender a serem homens.
Antes deles, só houve um dia de choro e ranger de dentes. Após eles, todos estariam sucumbidos a essa façanha pregada em evangelhos particulares. O mundo sem o tempo, seria a partir de um novo olhar metafórico, a depravação de um despejar da coisa cheia em sua forma vazia.
Deixaria como peso para os ombros, aquilo que futuramente chamaram de poetas. E sob o olhar das ditas Igrejas, a lançaria pastores cuja função determinante será a de apascentar homens como se fossem ovelhas.
E agora o tempo vai partindo. Acrescentando ao que há de vir, aparelhos digitais e mecânicos que consumiram toda a vida que vier a existir, pois nesse instante, eis que tudo se fez novo e o que era velho não existe mais.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Processo de ser mulher
Quando o dia começa cinza, deve-se ter em mente que é bom levar consigo, mesmo que sem nem resquício de chuva aparente, a sombrinha velha ao qual estamos acostumados carregar em algum canto de nossa bolsa, ou simplesmente chacoalhando entre os dedos de uma mão escolhida para ser portadora de tal gesto.
Assim também, é a vida de pessoas que transbordam junto as águas de um tempo as avessas, as lágrimas veladas em um coração cheio de buscas. São homens e mulheres que aprenderam com a vida, a intemperança dos gostos amargos tragados com a felicidade de permanecer e perceber-se em pé, mesmo quando o soprar dos ventos não são favoráveis.
As histórias se repetem em todos os cantos do mundo. São apenas rostos, nomes e casas diferentes, mas que trazem a marca de uma vida escolhida a dedo por querer continuar sem deixar que certas informalidades, deságüem de maneira descontrolada sobre os afetos e virtudes conquistados com os joelhos no altar que a vida proporciona.
Acontece na vida de todas as Anas, Marias, Soraias, Joãos, Felipes e Antonios. E aqui cabe contemplar o processo singular da beleza mais pura que se pode encontrar por detrás de um balcão amontoado de roupas, que traz consigo, um amontoado de questionamentos e algumas frustrações que é cabível a cada ser pensante que se compromete em ser gente.
Filotéia¹, jovem de olhos claros; mulher de sorrisos fardos de sentimentos sinceros e muito mistos. Representa em parte, a natureza que a mulher tem que assumir quando se depende dela, unicamente para manter o equilíbrio entre o ser e o estar. Talvez, se cada pessoa conhecesse uma dessas milhares de mulheres com os mesmos desejos e angústias, compreenderiam a beleza que se esconde entre as frases e pensamentos subjugados caretice.
Abrir o diário de vida dessa jovem, é como descobrir o porque ainda a desordem continua organizada. Ela carrega sobre os ombros, a esperança de ver um dia tudo mudar. Se abre um leque de possibilidades quando tudo parece não ter mais solução e devolve ao tempo o necessário para desencadear a civilização do amor, mesmo que chamadas de ingênuas e tolas.
Ser mulher é isso: acreditar quando não se há esperança. Ser o “sal e luz” do mundo. Descobrir entre a maquiagem forte a beleza de um rosto angelical que é aquele que é capaz de sustentar, mesmo na aparência de quando tudo parece querer desabar. É ver sobre os aspectos da estética, a imagem semelhante daquela que ouve tudo com o coração e realiza, por vocação, um chamado especial de viver intensamente por aqueles que ama. É notar que a vida dela não pode ser violada por mesquinharias de um machismo burro, ou de um feminismo enganador.
Filotéia é uma jovem prestes a completar seus vinte e tantos anos. É convidada a deixar de fato a vida de uma adolescente em transe, mas contemplar uma vida adulta, já experimentada antes mesmo dessa hora chegar, mas que agora recebe com a beleza do gosto de uma vida vivida com a intensidade. Encare-a e veja as sombras em seus olhos e o esmalte vermelho em suas mãos. É a mulher, que chega com o seu eterno coração de menina.
¹Filotéia – Feminino de Filoteu. ((Grego) - Philótheos: "phílos: amigo, e théos: Deus", "amigo de Deus", "que ama a Deus".)
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
A vida acontece no singular
Certo dia, Pedro fora tomado de vários questionamentos acerca de basicamente tudo que já tivesse ouvido. Acerca disso tudo, angustiadamente, sentou-se e tentou pensar.
As idéias pareciam voar dentro de sua cabeça. Era difícil manter-se fiel a uma única coisa, a um único caminho a seguir. Seria mais fácil, desejou ele, chegar naqueles ditos sábios do tempo; senhores da “razão”. Já que um jovem, quando pensa muito, é por hora chamado de tolo e um senhor de seus lá sessenta e poucos anos, de mestre da vida.
E foi exatamente o contrário que Pedro fez; não procurou ninguém. Acalentava em seu coração a vontade de descobrir e assim, não menosprezava sua capacidade de ser gente. Talvez, ignorar o que as outras pessoas dissessem, o tornaria de fato vivo. E de fato é assim. As verdades dos outros, são boas para elas e muitas vezes fatídicas para a construção pessoal dos outros. A experiência de cada um, só nos cabe sob o efeito de demonstração de vida, mas não nos pode em momento algum, privar que cada ser pensante ou não, tenha uma vida de escolhas e vidas próprias. Sem a doce ilusão de que se foi bom para mim, também será bom para você. É o grande engano da humanidade de julgar tudo pelo preconceito de ter medo de deixar o outro partir.
O mundo de Pedro, era particularidade sua. Mesmo que dividisse no espaço um lugar com outros corpos, seu lado subversivo era particular, não cabendo a ninguém, dizer-lhe o que é certo e errado. Não se pode querer comprar as descobertas dos outros. Não se doa bagatelas de afetos em troca de ter para si, o perfume particular que as angústias e as satisfações alheias produz.
O jovem, ainda sentado, decidiu que viveria a vida. Assim como lhe era de direito. Não se reservaria das novidades de um novo lugar; menos ainda menosprezaria a sensação estonteante de uma forte bebida quando lhe fosse ofertada. Deixaria morrer para si, as suas mortes. Aprisionaria os seus medos em si, pois é processo natural do homem sentir medo. Choraria, requerendo o direito de ser quem ele quisesse, e mais ainda, sonharia com um mundo fantástico, sem a preocupação de chamado de utópico ou ingênuo.
Chegou a hora em que ele resolveu balancear seus valores, seus planos e seus argumentos. Estava na hora, mais que na hora dele sentir de uma vez por toda a sensação da liberdade. Não era porque dependia de certa forma de algumas pessoas ou coisas, que deveria aceitar a o excesso de “mal” cuidado que haviam tendo com ele.
Pedro saiu pelo mundo, mesmo permanecendo sentado, estático no mesmo lugarzinho que a vida lhe reservou chamar de céu. Sim! Se céu é uma coisa boa, é um lugar que liberta e garante o direito das pessoas de serem livres e com isso, esse jovem de pensamentos frouxos, definiu sua vida pelo que sentia de verdade e não mais pelos aforismos alheios. A vida dele é particularidade sua, e quem não tem medo, que vida seus lados travessos, sem o medo julgativo dos outros.
A vida proporciona singularidades. Cabe a nós, torná-las plural em nós mesmos.