quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O tempo e eu

Assumindo a condição de infinitude, o tempo foi requerer ao seu criador o seu direito reservado de ser quem é e a plena justificação de suas horas prestadas de serviços gratuitos.

Questionou. Tornou-se os por ques em dilemas, onde só quem teria a resposta seria o seu mais chegado Kairós. Duvidou da física que a quantificou-o em movimento analógico, desenvolvendo assim um diagnóstico psicossomático, passando a assumir uma condição meramente humana para as análises de um Tal Dr. Saturno, senhor de tudo que cabe no espaço, sem as designadas linhas das certezas contextuais.

Chorar ao mundo, foi a maneira mais fácil que encontrou para demonstrar suas fragilidades. Juntou-se aos misticismos de uma tragédia próxima e aos ritos de uma geração desenfreada em comunhões aqui ou acolá. Dormiu o sono dos inocentes e massificou entre as construções de recônditos subconscientes, ao qual o mundo depreciou entre terapias e psicanalises.

Procurou ainda entre as sessões de psicografias, cartas escondidas de sua senhora mãe Gaia, que deixou-se morrer quando os seus filhos feitos em carne humana, entronizaram ao mundo seus reis particulares e seus temidos presidentes. Sábia ela que seu organismo nunca mais seria o mesmo com a miséria que um dia lhe entregariam no banquete da noite seguinte.

Encontrou seu fim onde havia promessa de vida abundante. Viu sua morte tão próxima que não sobraria tempode compor a sua melodia psicobiografica. Não teria com quem compartilhar cartas filosóficas. Ensaios metodológicos e menos ainda artigos fenomenológicos. Teve que se acostumar com o que diriam e inventariam a seu respeito. Temia aos contos de escritores “moderninhos” e roía de ódio pelas comparações paradoxais que moralistas pré-contemporâneos iram argumentar em seus cultos.

Foi se confortando, juntando suas coisinhas que espalhara pelos cantos subversivos e juntando tudo dentro de um grande saco desgostoso e apertado em meio a escombros e nucleares. Concentrou-se apenas em pegar tudo, não deixar nada como herança. Tornou-se egoísta. Eternizou o fim dos tempos, seus filhos mais novos e lançou sobre o que viesse depois dele a maldição de terem que aprender a serem homens.

Antes deles, só houve um dia de choro e ranger de dentes. Após eles, todos estariam sucumbidos a essa façanha pregada em evangelhos particulares. O mundo sem o tempo, seria a partir de um novo olhar metafórico, a depravação de um despejar da coisa cheia em sua forma vazia.

Deixaria como peso para os ombros, aquilo que futuramente chamaram de poetas. E sob o olhar das ditas Igrejas, a lançaria pastores cuja função determinante será a de apascentar homens como se fossem ovelhas.

E agora o tempo vai partindo. Acrescentando ao que há de vir, aparelhos digitais e mecânicos que consumiram toda a vida que vier a existir, pois nesse instante, eis que tudo se fez novo e o que era velho não existe mais.

5 comentários:

Dih disse...

Com certeza é um texto muito bem escrito... E bom realmente foram as mudanças pelas quais o ser humano passou que transformaram o seu ponto de vista sobre o tempo e a sua "essência" parabéns com o blog.

Um Pouco Sobre Isso disse...

Parabéns pelo blog. Tudo de muito bom gosto!
Estou seguindo, espero sua retribuição...
http://umpoucosobreisso.blogspot.com

Rafael disse...

Muito bom, parabés pelo blog

Tamires Fonseca disse...

Você sabe usar realmente palavras... Você sai do comum. Gostei muito do texto que eu li. Que venham mais.

Gustavo disse...

O tempo é assim. Grande manifestante contra a humanidade, mas somos superiores, pois nos foi dado a capacidade racional para o controlar. Não que seja bom, pois ele terá para sempre o poder de nos manter presos a suas maldições...

"Será que temos tempo pra perder?"