quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A vida acontece no singular

Certo dia, Pedro fora tomado de vários questionamentos acerca de basicamente tudo que já tivesse ouvido. Acerca disso tudo, angustiadamente, sentou-se e tentou pensar.

As idéias pareciam voar dentro de sua cabeça. Era difícil manter-se fiel a uma única coisa, a um único caminho a seguir. Seria mais fácil, desejou ele, chegar naqueles ditos sábios do tempo; senhores da “razão”. Já que um jovem, quando pensa muito, é por hora chamado de tolo e um senhor de seus lá sessenta e poucos anos, de mestre da vida.

E foi exatamente o contrário que Pedro fez; não procurou ninguém. Acalentava em seu coração a vontade de descobrir e assim, não menosprezava sua capacidade de ser gente. Talvez, ignorar o que as outras pessoas dissessem, o tornaria de fato vivo. E de fato é assim. As verdades dos outros, são boas para elas e muitas vezes fatídicas para a construção pessoal dos outros. A experiência de cada um, só nos cabe sob o efeito de demonstração de vida, mas não nos pode em momento algum, privar que cada ser pensante ou não, tenha uma vida de escolhas e vidas próprias. Sem a doce ilusão de que se foi bom para mim, também será bom para você. É o grande engano da humanidade de julgar tudo pelo preconceito de ter medo de deixar o outro partir.

O mundo de Pedro, era particularidade sua. Mesmo que dividisse no espaço um lugar com outros corpos, seu lado subversivo era particular, não cabendo a ninguém, dizer-lhe o que é certo e errado. Não se pode querer comprar as descobertas dos outros. Não se doa bagatelas de afetos em troca de ter para si, o perfume particular que as angústias e as satisfações alheias produz.

O jovem, ainda sentado, decidiu que viveria a vida. Assim como lhe era de direito. Não se reservaria das novidades de um novo lugar; menos ainda menosprezaria a sensação estonteante de uma forte bebida quando lhe fosse ofertada. Deixaria morrer para si, as suas mortes. Aprisionaria os seus medos em si, pois é processo natural do homem sentir medo. Choraria, requerendo o direito de ser quem ele quisesse, e mais ainda, sonharia com um mundo fantástico, sem a preocupação de chamado de utópico ou ingênuo.

Chegou a hora em que ele resolveu balancear seus valores, seus planos e seus argumentos. Estava na hora, mais que na hora dele sentir de uma vez por toda a sensação da liberdade. Não era porque dependia de certa forma de algumas pessoas ou coisas, que deveria aceitar a o excesso de “mal” cuidado que haviam tendo com ele.

Pedro saiu pelo mundo, mesmo permanecendo sentado, estático no mesmo lugarzinho que a vida lhe reservou chamar de céu. Sim! Se céu é uma coisa boa, é um lugar que liberta e garante o direito das pessoas de serem livres e com isso, esse jovem de pensamentos frouxos, definiu sua vida pelo que sentia de verdade e não mais pelos aforismos alheios. A vida dele é particularidade sua, e quem não tem medo, que vida seus lados travessos, sem o medo julgativo dos outros.

A vida proporciona singularidades. Cabe a nós, torná-las plural em nós mesmos.

4 comentários:

laila disse...

Que lindo!
Pedro é um rapaz de muita personalidade, não é? Me pareceu bem familiar, rsrs, adorei os pensamentos! Continue escrevendo pequeno príncipe! beijos

Gustavo disse...

“Convive com os teus poemas antes de escrevê-los” - (Carlos Drummond de Andrade)

A Cada leitura que faça de algo que escreve, te vejo desenhado em toda parte desse grande "rascunho", como você mesmo define a vida.

É bonito perceber que você captou a mensagem de viver intensamente, como se nada ao redor lhe importasse, mas sempre capaz de rever as suas metodologias, seus ensaios e seus afazeres.

Você é especial. Cada coisa que escreve é especial. Traz sua marca, seu jeito e seu gosto. E só aqueles que de fato compartilham um instante com você, sabe justamente o que quero dizer.

Simplesmente, te admiro pelo que representa para mim, mas também o que significa para a nova forma de "escrever com a vida".

Recordo agora, uma frase sua, que me deixa com saudade de estar perto de você: "A vida é metáfora, eu o sujeito e os verbos tende a se tornar predicados."

Anônimo disse...

Muito bom. De verdade mesmo.
Precisamos de escritores assim!

Parabéns!

Prof. Aílton disse...

Está na hora de você juntar, como diz, suas coisinhas e botar em um livro.

Seus textos, suas particularidades, seu mundo. É tão igual de tanta gente, mas você consegue expressar ela de uma forma simples, objetiva e clara!

Ótimo os textos, contos, prosas e seja lá como for que a Literatura caracteriza.